Médicos para o povo

Em uma cerimônia, não noticiada pela imprensa brasileira, formou-se, em Cuba, a primeira geração da Escola Latino-americana de Medicina. São 1.600 médicos, de 28 países, formados em um curso de 6 anos, que inclui a prática de medicina nas regiões pobres.

Emir Sader*
21/08/2005

Em cerimônia – não noticiada pela imprensa brasileira – formou-se a primeira geração de médicos da Escola Latino-americana de Medicina (ELAM), no Teatro Karl Marx, em Havana, na presença dos presidentes de Cuba, da Venezuela e do Panamá.

São 1.600 médicos, de 28 países, formados no país que tem a melhor medicina pública do mundo, atestada pelos extraordinários índices de saúde do povo cubano. Foram formados de forma totalmente gratuita, em um curso de 6 anos, que incluiu a prática de medicina nas regiões pobres dos seus países de origem. A idade média dos formados é 26 anos.

70% desses médicos são diretamente originários de famílias pobres, 46% são mulheres, vários deles são filhos ou netos de desaparecidos políticos de países como o Chile, a Argentina e o Uruguai.

Seguem estudando na Escola Latino-americana de Medicina 12.000 alunos, dos quais 5.500 são da América do Sul, 3.244 da América Central, 1.039 do Caribe, 489 do México e dos Estados Unidos, 42 da África e do Oriente Médio, 61 da Ásia, 2 da Europa. 64 são de povos indígenas da América Latina.

Esse exemplo extraordinário de solidariedade permite que se forme a primeira geração de médicos pobres, que trabalharão na saúde pública dos seus países, não buscarão lucros abrindo consultórios para atender a clientela rica – que já dispõe de suficientes médicos particulares e convênios particulares de saúde à sua disposição. O projeto passou a fazer parte da Alba (Alternativa Bolivariana para as Américas), um projeto de integração baseado na solidariedade e na generosidade, como um exemplo vivo do humanismo contemporâneo.

O Brasil se beneficia desse projeto e os médicos formados na Escola Latino-americana de Medicina tem que ser recebidos e inseridos na nossa sociedade – tão carente de melhoria do atendimento de saúde da grande maioria -, para estar minimamente à altura dos gestos generosos que nos propiciam ter essa primeira geração brasileira de médicos pobres, voltados para a atenção aos pobres.

Emir Sader, professor da Universidade de São Paulo (USP) e da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), é coordenador do Laboratório de Políticas Públicas da UERJ e autor, entre outros, de “A vingança da História”.

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