Não é qualquer carnaval
Renan Ribeiro de Araújo – Advogado (renanadvocacia@hotmail.com)
09/03/2009
Caça Cabaços, Depois Eu Digo, Mesma Laia, Caçacheiros, Liseu, Cú de Cana, Zueira e vários outros conformam blocos carnavalescos organizados. Todas as tardes, munidos de trator e carritela, enfileiram-se no corso que segue atrás do Trio Elétrico. Cada agrupamento com mais mel e bebida alcoólica que o outro. Similarmente animados, seguem embalados pelo axé. O Radiola de Ficha, com Baltazar e as dançarinas; e o Brega da Luz Vermelha, animado por Cláudio Galeno, marcaram presença com músicas de roedeira. Pra mim, caro leitor, o melhor do entrudo macauense, que junta dezenas de milhares de foliões, é a multidão de gente que se conhece. O reencontro amplo, geral e irrestrito. Informal, despojado, irreverente, alegre e divertido.
Cavaleiros do Forró, Grafith, Kabaço Elétrico, Naballada, Bakulejo, Swing Novo, Aballogueto, Ferro na Boneca, Feras, Zumzumbaba, Dettona, Inala, Circuito Musical, Prabaladas, Maluketo e Amore Mio, Axé Mais e Lane Cardoso deram shows de uma nota só, ritmo carnaval fora de época. Injunções sociais, políticas, econômicas e até religiosas estreitam o horizonte mental, sufocam tendências culturais, uniformizam e opacam, em parca criatividade, a manifestação carnavalesca.
Os blocos-empresas Jardim e Equipicão igualaram-se na proposta, mas diferenciaram-se no resultado. O Jardim, incentivado por gordo subsídio estatal – e ar de quem está por cima, conseguiu maior quantidade de componentes. Já o Equipicão, com impressão digital da facção política que perdeu a eleição municipal, arquejou. O lucrativo evento promovido por esses empreendimentos é restritivo e medíocre. Vem se isolando, decaindo ano a ano.
O diferencial alegórico genuinamente carnavalesco deveu-se à incansável intervenção momesca de carnavalescos nativos: Inácio e seus Índios Guaranis; Escolas de Samba Azes do Ritmo, Beija-Flor e Imperadores; Bloco da Vitória; e Cordão da Fantasia. O Bloco da Vitória, sob comando dos Colô, ao som de orquestra de frevo, sai às ruas pela manhã. Composto de senhoras das classes populares, o folguedo tem décadas de folia. É marca registrada do carnaval de Macau. A Escola de Samba Azes do Ritmo, na qual desfilei, com o tema “O Mundo Mágico do Folclore”, sagrou-se bi-campeã.
O Cordão da Fantasia, revitalizador, idealizado por mim, Leão Neto e Tião Maia, movido a frevança, saiu da Praça da Conceição na tarde da segunda-feira de momo. Um espetáculo à parte. Centenas de foliões fantasiados, humor, luz, brilho, invento, diversidade, confete, serpentina, fantástico matiz colorido. O jovem Isaac Newton, estudante universitário de Direito e Jornalismo, conduziu o Porta-Estandarte. Essa bandeira do Cordão foi feita a muitas mãos. Iniciou por Sheila, Maíra e Sarah, passou pelo artista plástico Thiago Vicente, o designer Alexandre Oliveira, a impressão digital, os carnavalescos Moisés e Titico; e o artífice e comerciante Djesun. O Minhocão Feliz, um dos destaques do Cordão, obra e graça da Casa da Faixa, vestido a sete foliões, caminhou, pulou, dançou e rodopiou feito um saci, fertilizando de carnaval o solo de Macau.
O Pólo da Praça, com a Banda e Orquestra de Frevo Balaio de Sal, tendo como cantores Marquinhos e Toinho, foi bom, mas não sobrepôs a inventividade e animação dos anos anteriores, o pique de Leão Neto e Banda Mestre Avelino. No carnaval de Macau, se tinha algo a ser sacrificado no fogo, que fosse um Trio Elétrico. Rolou manifestação carnavalesca em todas as ruas, praças, e na praia de Camapum. Foi tranqüilo, sem violência, maravilha. “Não é qualquer carnaval, não é qualquer litoral, que faz a minha cabeça, não…”
Fonte: O Jornal de Hoje