Apenas mais uma de amor

Apenas mais uma de amor
Um belo dia a gente acorda e hum…

Fiquei tentando descomplicar dilemas ancestrais antes de adormecer, mas a verdade é que eu mesmo não encontrei a fórmula do amor.

Quando o amor é forte, puro e verdadeiro, sempre fico frágil, fácil de me entregar, permito-me acreditar que não há nada que destrua passe o tempo que passar, sem querer saber que o pra sempre sempre acaba.

Mudam as estações, seguro minhas lágrimas para não demonstrar emoção, disponho-me a conversar só pra observar e aprender um pouco mais sobre a percepção, mas até hoje nada mudou.

É tão bom recomeçar, poder contar com alguém, que um olhar diferente pode tornar o impossível só questão de opinião. Fico desejando nós gastando o mar, quero morar na mesma rua, quero ver outra vez e penso que agora eu sei exatamente o que fazer.

Às vezes, eu nem sei o que ela tem pra me deixar assim e, mesmo sem conseguir entender, só vem ela no meu pensamento. Sei que não posso me precipitar, mas o tempo acelera e pede pressa.

Eu me recuso, faço hora, vou na valsa e, enquanto todo mundo espera a cura do mal, a loucura finge que isso tudo é normal, eu finjo ter paciência. Ocorre que o mundo vai girando cada vez mais veloz.

Um belo dia a gente acorda e hum… Um filme passou por a gente. E parece que já se anunciou o episódio dois. É quando a gente sente o amor se aboletar na gente.

Eu sei pelo cheiro de menta e pipoca que dá quando a gente ama. Eu sei porque eu sei muito bem como a cor da manhã fica. Da felicidade, da dúvida, dor de barriga. É drama, aventura, mentira, comédia romântica.

É quando as emoções viram luz. E sombras e sons, movimento. E o mundo todo vira nós dois. Não há sensação melhor, sinto graça até com a insônia que faz casa por uns dias e não procuro esconder tanto sentimento. A vida é tão rara, tão rara.

Obviamente, a musa inspiradora dos meus devaneios poéticos nem sempre está sonhando comigo, porém o tempo me ensinou que isso faz parte do curso natural da vida. Eu sei que um sonho que se sonha só é só um sonho que se sonha só, mas nada vai conseguir mudar o que ficou.

Amar é tão bom, tão bom que estou com o coração sempre de janela aberta para me deixar enganar e até me deixar levar por alguém que possa somar, sobretudo quando a soma começa antes que tudo não passe de amizade.

Confesso que depois de tanta chuva, surpreende-me a capacidade de acreditar no amor e sentir as sensações de uma paixão avassaladora, como uma que recentemente bagunçou a minha paz, a armadura e minha calma.

E olhe que escrevi a encomenda da minha vida num pedaço de papel e guardei pra ninguém mais achar. Mas lembro que a vi caminhar, o seu olhar veio de encontro ao meu e o meu dia se fez mais feliz.

Entre as coisas bem-vindas que já recebi, caiu do céu, se revelou, anjo da noite e das manhãs, pra amanhecer em par, em paz. Beleza rara de se ver. Sua fala é uma linda melodia. Mágica música no tom. Uma escultura de Debret. O meu poema de Drummond.

Simples assim, sem saber, entre tantos séculos, entre tantos outros, entre tantas paixões, ela mudou o meu coração. Ou como disse Fernando Pessoa em sua Autopsicografia: E assim nas calhas da roda / Gira, a entreter a razão, / Esse comboio de corda / Que se chama o coração.

Chegou o grande dia, o frio na barriga. Faz tempo eu não sentia. Quis nem saber a distância que precisaria percorrer para tê-la por perto num pedaço de qualquer lugar. Os meus amigos me chamam de tolo, ingênuo, menino, mas a escolheria mil vezes na vida se fosse preciso.

Consta nos autos, nas bulas, nos dogmas, eu fiz uma tese, eu li num tratado, está computado nos dados oficiais que, na bruma leve das paixões que vem de dentro, ela chegará pra brincar no meu quintal. Pro que der e vier comigo. Eu não duvido, não, que não foi por acaso.

Tento não olhar pro tempo. Sinto absoluto o dom de existir. Pensamento voa ela lá, eu cá. Tudo que eu quero preciso nem dizer. Ela sabe, simplesmente sabe. A alegria que me dá, isso vai sem eu dizer.

Tô com sintomas de saudade. Não vejo a hora de encontrá-la e continuar aquela conversa que não terminamos ontem, ficou pra hoje. Pra gente se lembrar da força que é alguém do lado. Pra gente entender que nós e o chão somos a mesma coisa. E os dias são contados pra gente viver.

Mas se a ciência provar o contrário. E se o calendário nos contrariar. Mas se o destino insistir em nos separar. Entre nós dois não haverá ruim. A vida põe e eu deixo que me tome.

Só não deixo que nada atinja o que vem antes do amor. Um sinal, um jeito, uma pista. Pra ser feliz onde for.

Viver é mesmo assim. Com o tempo tudo se acerta. Se o amor bateu na nossa porta, que sorte a nossa!


Para ouvir as músicas que envolvem a história…

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